sábado, 21 de agosto de 2010

A aurora dos mitos (1ª parte)


Uma pequena constatação de nossos dias: nossas noites têm sido cada vez menos sombrias. Até o cinema – a grande arte da fantasia – tem percebido isto, como pode ser visto no filme Minority Report (aliás, amplamente inspirado no mito de Édipo) em que duas personagens chegam à conclusão de que a ciência conseguiu roubar todos os nossos milagres.


O mundo é simples. Funciona a partir de princípios ordenados, previsíveis – ou pelo menos é no que passamos a acreditar depois da Revolução Científica iniciada por Galileu. Atualmente a humanidade vive um período em que se tem sabido cada vez mais sobre todos os grandes mistérios. Enfim, parece que estamos deixando um passado de incertezas. É um momento de desencantamento, onde de repente o homem começa a perceber que sua realidade não é habitada por terríveis monstros. Existem benefícios nisto? Claro, o fato de o homem superar barreiras, visitando lugares nunca antes visitados é por si só, um grande benefício.


Mas que ninguém pense que esta concepção, que se baseia em um priorado de certezas, não carrega consigo um grande número de perigos: a ausência de fantasia é somente um deles. O reducionismo de fenômenos conhecidos – mas mesmo assim inexplicáveis – como o amor a um simples processo neuroquímico, mostra uma profunda arrogância, motivada por um acúmulo de conhecimentos que não possuem infalibilidade.


No entanto nem sempre o mundo foi assim, permeado de tantas certezas (ou supostamente permeado de tantas certezas). O homem já sentiu medo do escuro, do desconhecido, da fúria dos elementos e, na tentativa de buscar um pouquinho de tranqüilidade, viveu sob uma perspectiva que o protegesse de toda hostilidade que o cercava. O homem criou para si os mitos, ou melhor, os sentiu na pele; um tipo de realidade tão entranhada, que era impossível dissociá-la do próprio conceito de homem.


Nas próximas semanas este blogue se dedicará a falar do mito, mostrando sua importância e contribuição na nossa realidade.